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domingo, 22 de abril de 2018

Bertolt Brecht no Facebook - Primeiro levaram os negros



Primeiro levaram os negros
mas não me importei com isso,
eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis,
mas eu não me importei com isso
eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho o meu emprego
também não me importei

Agora levam-me a mim
Mas já é tarde
como não me importei com ninguém
ninguém se importa comigo

Bertolt Brecht

domingo, 1 de abril de 2018

Mia couto no Facebook - A Dor e o tempo

a dor

A Dor e o tempo

Primeiro nenhum sentimento me doia
depois, fui sentindo a dor
agora doi-me sentir
ser novo é estar longe de tudo e tocar o que se sonha
ter idades é estar perto de tudo e não tocar senão nesse turvo espelho:
Saudades

Mia Couto

quinta-feira, 15 de março de 2018

Fernando Pessoa no Facebook - É fácil trocar as palavras,difícil é interpretar os silêncios!

Coração

É fácil trocar as palavras,difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado, difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto, difícil é chegar ao coração!
Fernando Pessoa

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A amizade segundo Vinicius de Moraes

viniciusdemoraes.jpg

 
 
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto
e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, 
eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, 
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
 
E eu poderia suportar, embora não sem dor, 
que tivessem morrido todos os meus amores, 
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !
 
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos 
e o quanto minha vida depende de suas existências ... 
 
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. 
 
Mas, porque não os procuro com assiduidade, 
não posso lhes dizer o quanto gosto deles. 
Eles não iriam acreditar. 
 
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem
que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. 
 
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, 
embora não declare e não os procure. 
 
E às vezes, quando os procuro, 
noto que eles não tem noção de como me são necessários,
de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, 
porque eles fazem parte do mundo que eu, 
tremulamente, construí,
e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
 
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
 
E me envergonho, porque essa minha prece é, 
em síntese, dirigida ao meu bem estar. 
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
 
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece 
é que a roda furiosa da vida 
não me permite ter sempre ao meu lado,
morando comigo, andando comigo, 
falando comigo, vivendo comigo, 
todos os meus amigos, e, principalmente, 
os que só desconfiam 
- ou talvez nunca vão saber -
que são meus amigos!
 
A gente não faz amigos, reconhece-os.
 

Vinicius de Moraes